Serra critica "obesidade da máquina" e ataca Dilma
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BRASÍLIA (Reuters) - Muito à vontade na sabatina realizada pelos industriais, o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, defendeu nesta terça-feira a redução dos gastos do Executivo com o custeio da máquina pública e partiu para o ataque contra Dilma Rousseff (PT), sua principal adversária na eleição de outubro.
Apesar de reconhecer que seu partido havia concordado com o modelo do evento organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que previa sabatinas individuais aos principais concorrentes ao Palácio do Planalto, o tucano reclamou da falta de oportunidade de entrar em um embate direto com suas adversárias. Os dois estão tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de votos, seguidos por Marina Silva (PV). Os três participaram do evento.
"Não tem planejamento, falta gestão. Se tudo é prioridade, não tem prioridade", disse Serra em relação aos investimentos públicos federais em infraestrutura, área que estava sob a responsabilidade de Dilma quando a petista chefiava a Casa Civil do governo Lula.
"Acredito em planejamento público. Investimento estruturante é planejamento. Não é planejamento de uma economia centralizada, que não funciona."
Ao comentar crítica da ex-ministra Dilma a mecanismos tributários que facilitariam a importação de produtos, o tucano afirmou que não havia entendido a colocação, uma vez que ela fez parte de um governo que apresentou ao Congresso uma proposta de reforma que supostamente prejudicaria a indústria nacional nesse mesmo segmento.
"Fui um elemento importante para que essa ruína não fosse votada", declarou, não se importando em usar uma gíria em meio a empresários ao dizer que a proposta do governo era "do peru".
Serra também prometeu acabar com a cobrança de PIS/Cofins na construção da infraestrutura de saneamento em seu segundo dia de governo, se eleito.
Em resposta à declaração de Dilma de que não se deve acabar com as indicações políticas para as agências reguladores desde que se respeite critérios técnicos, Serra disparou: "Tudo está loteado (entre partidos políticos)".
O ex-governador de São Paulo cobrou, mais uma vez, melhoria na gestão como forma de aumentar os recursos para investimentos de interesse da população.
"Na área federal, a obesidade dá até gosto. Puxa vida, como dá para aumentar a eficiência", destacou, arrancando aplausos da plateia.
A posição do governo é de que as contratações de servidores são necessárias e se dirigem às áreas de saúde, educação, relações exteriores, segurança e fiscalização.
BANCO CENTRAL
Candidato da oposição, Serra disse também que o Banco Central deve se integrar à política do governo porque as taxas de juros e câmbio devem "ter um alinhamento melhor" no país.
"Não posso ter um ministro da Fazenda em disputa com o presidente do Banco Central e vice versa. Não há governo que funcione bem assim", afirmou o tucano, que responsabilizou a atual política macroeconômica pela redução da importância da indústria no Produto Interno Bruto (PIB).
Em entrevista à imprensa após a sabatina, Serra disse que seu principal desafio na área econômica é "combinar o equilíbrio macroeconômico com o desenvolvimento sustentável".
Disse ser um dos primeiros defensores no país do tripé macroeconômico representado por controle da inflação, taxa de câmbio flutuante e controle fiscal.
Antes, debochou do suposto temor que suas ideias causam no mercado. "Eu ajudei a erguer a mesa da economia do Brasil, não vou derrubar essa mesa. O importante é que a gente olhe para frente", sublinhou, durante discurso aos empresários.
Bem humorado, Serra falou de improviso aos participantes do evento. Atacou as altas taxas de juros, a carga tributária do país e os baixos níveis dos investimentos governamentais. Por mais de uma vez criticou a importação de produtos chineses.
POLÍTICA EXTERNA
Indagado sobre qual seria sua opinião em relação à aproximação entre o Brasil e o Irã, Serra disse que concorda com a postura do Brasil de defender a soberania dos países. No entanto, argumentou que o Brasil deveria reforçar sua defesa dos direitos humanos.
Sobre o acordo mediado por Brasil e Turquia para a troca de urânio por combustível nuclear pronto para o uso pacífico pelo Irã, Serra demonstrou ceticismo. Potências ocidentais dizem que o Irã tenta desenvolver armas atômicas, mas a República Islâmica assegura que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
"Não é uma pessoa, não é um regime para a gente confiar", alertou Serra em referência ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, classificando-o como ditador.
(Reportagem de Fernando Exman)